O gerenciamento de obras no Brasil é uma atribuição de arquitetos e engenheiros civis, regulamentada pela Lei 5.194, de 1966. Porém, na maioria das vezes, essa tarefa é preterida por arquitetos e abraçada pelos engenheiros. O distanciamento dos arquitetos do canteiro começa ainda na graduação, que costuma oferecer pouco conteúdo sobre administração de obras. A ideia preconcebida de que engenheiros são mais capazes de lidar com a mão de obra e com cronogramas e planilhas de orçamento também contribui para que esse trabalho não seja melhor explorado pelos arquitetos.
Mas há uma série de vantagens associadas à realização do gerenciamento pelos arquitetos, especialmente quando de trata da construção de seus próprios projetos. "Assumir a gestão da obra é uma garantia de que a execução seguirá o projeto à risca, o que beneficia não apenas o autor, mas também seu contratante", defende o arquiteto Fábio Rocha, que realiza o gerenciamento de obras corporativas e industriais.
GESTÃO TOTAL E PARCIAL
É papel do gestor da obra garantir que a construção seja realizada dentro do prazo estipulado, com respeito aos custos previstos e aos padrões de qualidade e desempenho desejados pelo cliente. "Quando essa gestão não ocorre como devido, as perdas financeiras e emocionais são inevitáveis, comprometendo a qualidade do produto final", comenta a professora da FAU da Universidade Positivo, no Paraná, Fernanda Bertoli Stival.
Gerenciar uma obra significa administrar, simultaneamente, o cumprimento do cronograma e a previsão financeira, gerindo profissionais que têm formações e práticas diversas. Quem assume essa função deve dominar custos, contratos, prazos, ser organizado e um bom gestor de pessoas.
Há várias escalas de gestão de uma obra. O modelo mais adequado deve ser definido previamente com o contratante e acordado contratualmente. De modo geral, há o gerenciamento total, que inclui a contratação de materiais, serviços e mão de obra: é o famoso turn key, no qual todos os serviços ficam centralizados em um único escritório.
Há também a gestão parcial, na qual alguns itens são gerenciados pelo arquiteto, enquanto outros (como a compra de insumos) ficam sob responsabilidade do cliente.
Independentemente do modelo adotado, fazem parte do escopo do gerenciamento:
- a elaboração do planejamento físico-financeiro da obra;
- a programação de aquisição de materiais e contratação de serviços, incluindo cronograma de suprimentos;
- o planejamento operacional e logístico da obra, incluindo o planejamento do canteiro;
- o controle e o acompanhamento das atividades executadas (gestão de mão de obra e de segurança);
- a retroalimentação do planejamento físico-financeiro.
CRONOGRAMA SINCRONIZADO
Um grande desafio no gerenciamento de obra é a compatibilização dos prazos definidos pelo contratante com os de fornecedores e prestadores de serviços. "De um lado, somos pressionados por clientes que querem as obras concluídas em períodos cada vez mais exíguos. Do outro, temos prestadores de serviços que nem sempre se comprometem com os prazos", critica Fábio.
Diante de fornecedores que não são capazes de atender no prazo necessário, a solução é substituí-los. A mesma decisão deve ser tomada com a mão de obra que não atinge os resultados esperados. "Com o passar do tempo, o gerenciador consegue ter uma lista de pessoas e empresas parceiras com as quais pode contar em situações críticas", diz Fábio.
O sucesso na gestão de obras passa por um planejamento que garanta o sincronismo das equipes que atuam na execução. "O cronograma físico-financeiro deve ser realista, produzido com total compreensão do projeto, das etapas, dos processos construtivos e dos recursos do cliente, formando um conjunto indissociável", explica Enio Moro Júnior, coordenador do curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.
Na hora de preparar esse planejamento, é preciso dar atenção especial a tudo que pode impactar significativamente no cronograma, o que inclui desde feriados e férias de profissionais até o tempo necessário para a validação de tomadas de decisão junto ao cliente. O planejamento deve, ainda, considerar todos os riscos existentes, como atrasos, falta de material, chuvas etc.